Monday, March 01, 2010

The last dance rarely is the last one.

A música soava pelo salão enquanto entre vários pares dançavam vestidos a rigor, trajadas para um momento social tão banal que apenas o preço das roupas lhe dava alguma dignidade. O clima de declarado engate de meia idade enojada qualquer alma que não desejasse sexo naquele momento. Enquanto se olhavam e tocavam num reles tango, soltavam um ameno diálogo:
- Nunca fui de grandes conversas
- Nunca te quis a conversar
A repulsa atingia ambos. Aquilo era demasiado cliché para qualquer um dos dois.
- Sabes, isto é mau demais.
- Eu sei.
- Não sabes. Soubesses e não participavas neste preliminar que a ninguém satisfaz
- Porque participas então tu?
- Porque me aptece.
Mentira
- Porque te aptece? que raio de resposta?
- Merda de resposta. Que merda de resposta
- Desculpa?
- Não desculpo. Odeio quando me tentam convencer que têm uma dignidade perdida há anos atrás
- Esta lengalenga alguma vez resultou?
- Sempre
- Hoje não é sempre
e sorriu, convencida de que seria a que lhe era superior e saía por cima
- Oh but it is
- para que o inglê?
- Para que as perguntas?
- Para que esta estúpidez?
e agarrando-a pela cintura, atrevidamente perto das nádegas, beijou-a
e ela, após aproveita-lo, recusou-o:
- É preciso atrevimento! - com todo o cinismo que todas as mulheres têm
- É preciso ser hipócrita, sabes tão bem como eu que o queres
- E não páras!
- Porque o faria? sabes que acabas a noite numa cama comigo, antes de abalares envergonhada por mais uma vez foderes contra os principios que os teus paizinhos te ensinaram, também eles hipocritas numa educação que não seguiram
- é que nem mereces resposta
- Não há resposta. É a verdade.
e era
- Olhe, vá-se foder! - disse ao ter de admitir a si p´ropria que a sua segurança e perspicácia pouca margem de manobra lhe davam para o recusar em si.
- Pois vou.

Não foi preciso muito para que ao sair dos seus braços se agarra-se ao alcool colorido que abundava na mesa. Alegre lubrificante mental. A ele bastou-lhe esperar, o isco estava lançado, a raiva da indiferença a que estava a ser submetida não podia passar impune. Ela era mulher, Tinha de ter a última palavra. Bebeda, magoa com a sua inferioridade no momento vivido há pouco, confrontou-o:

- Fica sabendo que
- Voltas-te? ainda não te chegou ouvires o que sabes ser verdade uma só vez?
ela desmanchou-se
- Não tem o direito. Você não tem o direito de me flar assim. de me dizer essas coisas. de ser a besta que foi.
- Eu não tenho o direito de te dizer a verdade?
- ...
agarrou-o.

uma hora depois ele vinha-se para cima dela, com a maior das faltas de respeito.
Quando se cansou, vestiu-se e veio-se embora. Nem um adeus. sozinha, na cama, chorou a sua fraqueza quando ele lhe susurrou:
"só porque querias que me viesse foder".
Jurou com coragem que nunca mais.





Mas ela é humana. Um mês e picos mais tarde, o amigo da amiga fez-lhe a dança do cio. E, novamente, a mesma vergonha que a acompanharáaté à morte. Ele morreu uns dois anos mais tarde, vitima da sida ganha pela sua constante e aventureira estúpidez. É que às vezes quem fode acaba fodido, e ela, por muita vergonha que passe, teve sempre nas mãos a graça do último riso

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