Thursday, October 15, 2009

Narciso

"quando aqueles que me rodeiam não concordam com o que penso, digo ou faço, o tempo encarrega-se de cruelmente explicar o seu ignorante erro."
(Obg A. por recordares o esboço)

Friday, October 02, 2009

Fallout

Entretia-me com o gosto do chá e escrevinhando no moleskine, iluminado pelo candeeiro kitch com abajur de flores rosa de vidro, acompanhado por uma doentia discussão familiar na mesa vizinha e pela música calma que me inspirava o momento através do iPod, deitando no papel banalidades sem grande nexo ou interesse, dando mais atenção aos veios da mesa de um belo mármore branco do que ao chorrilho de idiotices que ia transmitindo ao mundo através da escrita.
Gostava destas tardes, sozinho, numa solidão provocada e desejada, onde eu era eu para mim, quandopodia dar-me atenção, não perturbado por ninguém nem nada, fechado no meu mundo, minha zona de conforto, meu Lugar, minha casa mental.
Perdia-me me mim.
Amava-me mais profundamente do que na altura poderia perceber, a idade a tal ainda não dava direito, inexperiente inocência que tanta saudade me provoca.
Olhava-me magro pelas longas mangas do pólo, tamanho acima do meu, exagerado na proporção, preço e despreocupação com que tinha sido escolhido.
Nunca fui individuo de imagem, nunca o quis ser, talvez por inabilidade ou facilidade.
Quando o mármore perdeu seus segredos, a minha atenção procurou outra vitima.
A discussão continuava, amarga e desagradavél, para meu grande deleite. Não sei porque me divertia os problemas alheios, nem o que poderia ter de divertido uns avós raivosos com a filha mãe-adolescente a quem a vida, sem surpresa, não teria corrido da melhor forma. Nem o quão engraçado pudesse ser a culpa indeclarada que a mesma mãe punha no seu filho, infantil ainda nos seus 7 anos de idade, suficientes para compreenderque ele era o erro de não sabe o quê. Gargalhada interior e maliciosa libertei no meu inconsciente à irresponsavel criancice sexual da jovem mãe. Mas não compreendia a minha crueldade, do mesmo modo que não compreendia porque naquele quente dia de Outono as folhas tinham de deixar de cair.
Após o estrondo, após a luz, após a onda de choque, a poeira e o som, o cogumelo de fumo e fogo que apenas subentendi, a destruição. Não mais tive tempo para mim, nem para o meu chá de tilia, para a familia disfuncional ou o meu disfuncional feitio.
O inicio do fim dá-nos tempo para apenas duas coisas: Morrer de imediato ou devagar.