Friday, March 12, 2010

A vampiresca politica

Dei por mim a pensar que não tinha qualquer legitimidade para criticar os políticos. Para questionar os seus inegáveis erros. Para opinar.
E não tenho, de facto, qualquer legitimidade para tal, pela simples razão de que não sei do que estou a falar. Passo a explicar-me: Eu, enquanto cidadão, tenho todo o direito de questionar quem me governa, pois foi a minha participação enquanto votante que permitiu, através do sufrágio, a eleição (ou não) de tais personagens. No entanto, que sei eu das pessoas que me governam ? Conheço o Primeiro-Ministro, mal e porcamente, ficando-me pela consciencia de que é péssimo engenheiro civil e um tipo aldrabão. Tenho uma vaga ideia de que a Ministra da Educação é, entre outras prováveis coisas que desconheço, autora de livros infanto-juvenis. De resto, verdade seja dita, pouco sabia sobre o assunto.
Como gosto do direito de opinar, e de opinar assertivamente, de modo claro e correcto, dei-me ao trabalho de procurar quem são as personagens que me governam nos vários ministérios.

Assim, posso dizer com legitimidade que não percebo como para Ministra do ambiente e do ordenamento do território, basicamente quem decide a estratégia organizacional do país, está uma senhora cujo currículo é ser engenheira sanitária e principalmente tratar de águas residuais (http://pt.wikipedia.org/wiki/Dulce_Pássaro), fazendo na minha maneira de pensar muito mais sentido estar lá um arquitecto ou urbanista, já que seriam indivíduos com muito mais formação na área.

Ou porque é uma licenciada em línguas e literaturas modernas a responsável pelo Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, cuja única parte do currículo que se cola a este cargo é ser membro do conselho cientifico do instituto de investigação sobre o emprego numa universidade (http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Helena_André), e não alguém com formação em assistência social. Ou recursos humanos com consciência social. Ou outra área que de facto conheça a fundo, mais que apenas estudos académicos (que por vezes pecam por parcialidade e/ou incapacidade de abarcar os temas na sua completa extensão).

É-me incompreensível como o dirigente do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações tem formação de economista (http://pt.wikipedia.org/wiki/António_Mendonça). Sendo este um Ministério que trata fundamentalmente das infra-estruturas do país, não faz muito mais sentido que seja coordenado por alguém com formação de engenharia civil? ou planeamento de vias de comunicação? ou algo que tenha de facto a ver com as infra-estruturas físicas do país?!

Ou por exemplo o Ministério da Ciência e Ensino Superior ser um Engenheiro Electrotécnico (http://pt.wikipedia.org/wiki/Mariano_Gago)? Á partida, este até é um bom exemplo de alguém que está, de facto, como peixe na água. No entanto, o ministério que tutela é tão abrangente que, creio, faria mais sentido ter alguém da área da investigação cientifica (já que conhecerá melhor de certeza as necessidades e dificuldades da ciência em Portugal), com experiência em pedagogia. Ou alguém de áreas do Ensino Superior que tenha no currículo ou participação na vida popular a luta pela melhoria da intelectualidade portuguesa no campo da ciência e educação superior?!

É-me dificílimo de perceber como para Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas vai alguém doutorado em Gestão de Empresas, alguém cuja ligação ao assunto foi ter sido director do Gabinete de Planeamento de Política Agro-Alimentar do Ministério da Agricultura (http://portal.min-agricultura.pt/portal/page/portal/MADRP/PT/servicos/ministerio/mbr_gov/mntr/perfil). É que passa-me pela cabeça a seguinte pergunta: Não estará para o cargo muito mais bem preparado alguém com formação em Engenharia Agrária? Esse pelo menos foi educado para perceber, conhecer e saber trabalhar em duas das áreas de actuação do ministério. Ou em Biologia Marinha, já que pelo menos teriam estudos numa das áreas do ministério (e visto que "Portugal é Lisboa e o resto é paisagem", que grande parte da nossa população e actividades se encontram perto do mar ou a ele ligado, não julgo ser opinião de todo descabida).

Não compreendo como para ministro dos negócios estrangeiros temos um licenciado em economia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Amado). Não compreendo. Havendo tanta gente no país com canudos de ciência política, de
estudos europeus e relações internacionais (só para falar nas licenciaturas, porque se formos olhar para os mestrados e pós graduações que servem para o cargo, a lista seria bem maior), como vai alguém com aquela experiência profissional para ali?!

Tal como não compreendo porque para Ministro da Administração Interna não está alguém com formação na área das políticas de segurança. Ou ciências policiais. Ou segurança interna. Não é que a formação em Direito (http://pt.wikipedia.org/wiki/Rui_Pereira) seja completamente desadequada, mas julgo que o lugar dos juristas é outro que não este, nomeadamente na criação de leis aplicáveis e úteis à sociedade. Se não houvesse gente capaz de e formada neste assunto especifico, compreendia-se. Não sendo esse o caso, parece difícil de perceber.

Incrível é ainda a ascensão a Ministro da Defesa Nacional um homem cuja formação e currículo se centra numa licenciatura em história e um doutoramento em Sociologia. Nenhuma experiência na coordenação, manutenção, organização ou actuação de forças armadas, do pessoal com armas, das pessoas que zelam pela estabilidade, segurança e independencia nacional de modo mais "físico". Nada.
Não é claro que para para cargo de tanta responsabilidade é necessário alguém que perceba profundamente do assunto?! Não existe por aí nenhum general, major, comandante ou outro qualquer cargo militar que perceba do assunto e tome as rédeas dos militares!? há assim tanta inexistência de gente competente e responsável nesta área que se tenha de ir buscar alguém que nada tem a ver com o assunto para o coordenar?

Que raio de mensagem se passa ao mundo quando se fazem estas opções? quando se tomam estas decisões?
Não estou a dizer que estas pessoas enunciadas são incompetentes; nunca trabalhei com elas, nunca tive meio de em primeira pessoa poder verificar a sua competencia na area em que estão. Parece-me no entanto que as discrepâncias educacionais entre formação e actividade estatal são tão abismais que denunciam automaticamente que algo está errado. Que "isto", Portugal, não pode dar certo. Que por muito esforço que estas pessoas façam (e aqui dou-lhes o beneficio da duvida de querer acreditar que perdem noites de sono e anos de vida a esforçar-se pelo interesse nacional) pura e simplesmente não estão habilitadas com um conjunto de conhecimentos mínimos a uma satisfatória concretização da tarefa a que foram propostos. E parece-me a mim também que nós, portugueses, na sua larga maioria, não somos merecedores dessa satisfatória concretização pois nem sabemos conscientemente as pessoas que o deviam fazer.

Monday, March 01, 2010

The last dance rarely is the last one.

A música soava pelo salão enquanto entre vários pares dançavam vestidos a rigor, trajadas para um momento social tão banal que apenas o preço das roupas lhe dava alguma dignidade. O clima de declarado engate de meia idade enojada qualquer alma que não desejasse sexo naquele momento. Enquanto se olhavam e tocavam num reles tango, soltavam um ameno diálogo:
- Nunca fui de grandes conversas
- Nunca te quis a conversar
A repulsa atingia ambos. Aquilo era demasiado cliché para qualquer um dos dois.
- Sabes, isto é mau demais.
- Eu sei.
- Não sabes. Soubesses e não participavas neste preliminar que a ninguém satisfaz
- Porque participas então tu?
- Porque me aptece.
Mentira
- Porque te aptece? que raio de resposta?
- Merda de resposta. Que merda de resposta
- Desculpa?
- Não desculpo. Odeio quando me tentam convencer que têm uma dignidade perdida há anos atrás
- Esta lengalenga alguma vez resultou?
- Sempre
- Hoje não é sempre
e sorriu, convencida de que seria a que lhe era superior e saía por cima
- Oh but it is
- para que o inglê?
- Para que as perguntas?
- Para que esta estúpidez?
e agarrando-a pela cintura, atrevidamente perto das nádegas, beijou-a
e ela, após aproveita-lo, recusou-o:
- É preciso atrevimento! - com todo o cinismo que todas as mulheres têm
- É preciso ser hipócrita, sabes tão bem como eu que o queres
- E não páras!
- Porque o faria? sabes que acabas a noite numa cama comigo, antes de abalares envergonhada por mais uma vez foderes contra os principios que os teus paizinhos te ensinaram, também eles hipocritas numa educação que não seguiram
- é que nem mereces resposta
- Não há resposta. É a verdade.
e era
- Olhe, vá-se foder! - disse ao ter de admitir a si p´ropria que a sua segurança e perspicácia pouca margem de manobra lhe davam para o recusar em si.
- Pois vou.

Não foi preciso muito para que ao sair dos seus braços se agarra-se ao alcool colorido que abundava na mesa. Alegre lubrificante mental. A ele bastou-lhe esperar, o isco estava lançado, a raiva da indiferença a que estava a ser submetida não podia passar impune. Ela era mulher, Tinha de ter a última palavra. Bebeda, magoa com a sua inferioridade no momento vivido há pouco, confrontou-o:

- Fica sabendo que
- Voltas-te? ainda não te chegou ouvires o que sabes ser verdade uma só vez?
ela desmanchou-se
- Não tem o direito. Você não tem o direito de me flar assim. de me dizer essas coisas. de ser a besta que foi.
- Eu não tenho o direito de te dizer a verdade?
- ...
agarrou-o.

uma hora depois ele vinha-se para cima dela, com a maior das faltas de respeito.
Quando se cansou, vestiu-se e veio-se embora. Nem um adeus. sozinha, na cama, chorou a sua fraqueza quando ele lhe susurrou:
"só porque querias que me viesse foder".
Jurou com coragem que nunca mais.





Mas ela é humana. Um mês e picos mais tarde, o amigo da amiga fez-lhe a dança do cio. E, novamente, a mesma vergonha que a acompanharáaté à morte. Ele morreu uns dois anos mais tarde, vitima da sida ganha pela sua constante e aventureira estúpidez. É que às vezes quem fode acaba fodido, e ela, por muita vergonha que passe, teve sempre nas mãos a graça do último riso

Fly!

Há alturas na vida em que temos decisões a fazer.
Em que não há tempo para hesitar, dúvidar, pensar sonhar desesperar chorar ou rir. Só agir.

Pensava nestes contratempos pré-suicidio quando olhava as pessoas a apontarem de boca tapada, num misto de choque e desejo pela desgraça alheia que nós, humanos, as eternas bestas, sempre partilhamos. Pessoas. Merda para elas. São elas as culpadas, sempre foram elas as culpadas, elas é que fizeram o meu sofrimento. O Mundo não percebe, não me merece, eu não me mereço. é o fim

As pessoas olharam-na fazer uma caralhada, uma última ofensa, e depois o desfalecimento. Não saltou, não abraçou a morte com coragem. Não há coragem na morte, há o conformismo de não lhe escaparmos. Ninguém morre com coragem, para que fingi-lo? inclinou-se para o nada, de cuecas e uma t-shirt oferecida pela publicidade, com uns alegres bonecos que tornam a situação ridicula. As senhoras gritaram de olhos fechados, os homens viram-na desfazer na calçada portuguesa do século XVIII, rebentando num vermelho-sangue partes da sua pele.

Todos os possiveis lirismos sobre o nosso fim desfazem-se quando encaramos a morte de caras.

Ninguém podia perceber o porque de alguém belo, conhecido, com amigos, "pessoa de bem", quereria acabar assim, aos 19 anos de vida, um promissor futuro. Ninguém podia perceber porque quem a viu, tal como ela, até ai vivia numa infantilidade de cosnciencia. Ninguém até ai tinha crescido para lá da obrigatoriedade de todas as manhãs acordar para um trabalho que lhe pague as contas. Porque as pessoas que, expectantes, assistiram este belo espetaculo, eram "putos e pitas" em corpos demasiado grandes para a sua "idade". Ninguém percebia assim, por ignorancia, que a única coisa que se tinha passado fora a incapacidade de pobre criança encarar o mundo como ele é; podre, desonesto, cínicamente hipócrita e triste na sua completa humanidade. Ela pura e simplesmente cresceu, comeu e não conseguiu engolir o ar que respirou toda a vida. E, na sua enternecedora revolta ganha a uma sociedade errada demais para ser aceite pela mais simplória inteligencia, reagiu como qualquer bebé reage, foge. Mas do mundo so se foge para a morte. Não lhe há escapatória. Agradeceu assim a dádiva da engritude e determinada cagou para o mundo, mandou-o convictamente para o caralho, e estatelou-se no chão ácreditando num depois que nunca aconteceria.

Infeliz o momento em que isto virou mentira, o medo sorriu-lhe maléficamente e o pânico domou a coragem da criatura, sendo seus receios apenas amparados pela pedra que lhe roubou a vida.

Fim.