E não tenho, de facto, qualquer legitimidade para tal, pela simples razão de que não sei do que estou a falar. Passo a explicar-me: Eu, enquanto cidadão, tenho todo o direito de questionar quem me governa, pois foi a minha participação enquanto votante que permitiu, através do sufrágio, a eleição (ou não) de tais personagens. No entanto, que sei eu das pessoas que me governam ? Conheço o Primeiro-Ministro, mal e porcamente, ficando-me pela consciencia de que é péssimo engenheiro civil e um tipo aldrabão. Tenho uma vaga ideia de que a Ministra da Educação é, entre outras prováveis coisas que desconheço, autora de livros infanto-juvenis. De resto, verdade seja dita, pouco sabia sobre o assunto.
Como gosto do direito de opinar, e de opinar assertivamente, de modo claro e correcto, dei-me ao trabalho de procurar quem são as personagens que me governam nos vários ministérios.
Assim, posso dizer com legitimidade que não percebo como para Ministra do ambiente e do ordenamento do território, basicamente quem decide a estratégia organizacional do país, está uma senhora cujo currículo é ser engenheira sanitária e principalmente tratar de águas residuais (http://pt.wikipedia.org/wiki/Dulce_Pássaro), fazendo na minha maneira de pensar muito mais sentido estar lá um arquitecto ou urbanista, já que seriam indivíduos com muito mais formação na área.
Ou porque é uma licenciada em línguas e literaturas modernas a responsável pelo Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, cuja única parte do currículo que se cola a este cargo é ser membro do conselho cientifico do instituto de investigação sobre o emprego numa universidade (http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Helena_André), e não alguém com formação em assistência social. Ou recursos humanos com consciência social. Ou outra área que de facto conheça a fundo, mais que apenas estudos académicos (que por vezes pecam por parcialidade e/ou incapacidade de abarcar os temas na sua completa extensão).
É-me incompreensível como o dirigente do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações tem formação de economista (http://pt.wikipedia.org/wiki/António_Mendonça). Sendo este um Ministério que trata fundamentalmente das infra-estruturas do país, não faz muito mais sentido que seja coordenado por alguém com formação de engenharia civil? ou planeamento de vias de comunicação? ou algo que tenha de facto a ver com as infra-estruturas físicas do país?!
Ou por exemplo o Ministério da Ciência e Ensino Superior ser um Engenheiro Electrotécnico (http://pt.wikipedia.org/wiki/Mariano_Gago)? Á partida, este até é um bom exemplo de alguém que está, de facto, como peixe na água. No entanto, o ministério que tutela é tão abrangente que, creio, faria mais sentido ter alguém da área da investigação cientifica (já que conhecerá melhor de certeza as necessidades e dificuldades da ciência em Portugal), com experiência em pedagogia. Ou alguém de áreas do Ensino Superior que tenha no currículo ou participação na vida popular a luta pela melhoria da intelectualidade portuguesa no campo da ciência e educação superior?!
É-me dificílimo de perceber como para Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas vai alguém doutorado em Gestão de Empresas, alguém cuja ligação ao assunto foi ter sido director do Gabinete de Planeamento de Política Agro-Alimentar do Ministério da Agricultura (http://portal.min-agricultura.pt/portal/page/portal/MADRP/PT/servicos/ministerio/mbr_gov/mntr/perfil). É que passa-me pela cabeça a seguinte pergunta: Não estará para o cargo muito mais bem preparado alguém com formação em Engenharia Agrária? Esse pelo menos foi educado para perceber, conhecer e saber trabalhar em duas das áreas de actuação do ministério. Ou em Biologia Marinha, já que pelo menos teriam estudos numa das áreas do ministério (e visto que "Portugal é Lisboa e o resto é paisagem", que grande parte da nossa população e actividades se encontram perto do mar ou a ele ligado, não julgo ser opinião de todo descabida).
Não compreendo como para ministro dos negócios estrangeiros temos um licenciado em economia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Amado). Não compreendo. Havendo tanta gente no país com canudos de ciência política, de
estudos europeus e relações internacionais (só para falar nas licenciaturas, porque se formos olhar para os mestrados e pós graduações que servem para o cargo, a lista seria bem maior), como vai alguém com aquela experiência profissional para ali?!
Tal como não compreendo porque para Ministro da Administração Interna não está alguém com formação na área das políticas de segurança. Ou ciências policiais. Ou segurança interna. Não é que a formação em Direito (http://pt.wikipedia.org/wiki/Rui_Pereira) seja completamente desadequada, mas julgo que o lugar dos juristas é outro que não este, nomeadamente na criação de leis aplicáveis e úteis à sociedade. Se não houvesse gente capaz de e formada neste assunto especifico, compreendia-se. Não sendo esse o caso, parece difícil de perceber.
Incrível é ainda a ascensão a Ministro da Defesa Nacional um homem cuja formação e currículo se centra numa licenciatura em história e um doutoramento em Sociologia. Nenhuma experiência na coordenação, manutenção, organização ou actuação de forças armadas, do pessoal com armas, das pessoas que zelam pela estabilidade, segurança e independencia nacional de modo mais "físico". Nada.
Não é claro que para para cargo de tanta responsabilidade é necessário alguém que perceba profundamente do assunto?! Não existe por aí nenhum general, major, comandante ou outro qualquer cargo militar que perceba do assunto e tome as rédeas dos militares!? há assim tanta inexistência de gente competente e responsável nesta área que se tenha de ir buscar alguém que nada tem a ver com o assunto para o coordenar?
Que raio de mensagem se passa ao mundo quando se fazem estas opções? quando se tomam estas decisões?
Não estou a dizer que estas pessoas enunciadas são incompetentes; nunca trabalhei com elas, nunca tive meio de em primeira pessoa poder verificar a sua competencia na area em que estão. Parece-me no entanto que as discrepâncias educacionais entre formação e actividade estatal são tão abismais que denunciam automaticamente que algo está errado. Que "isto", Portugal, não pode dar certo. Que por muito esforço que estas pessoas façam (e aqui dou-lhes o beneficio da duvida de querer acreditar que perdem noites de sono e anos de vida a esforçar-se pelo interesse nacional) pura e simplesmente não estão habilitadas com um conjunto de conhecimentos mínimos a uma satisfatória concretização da tarefa a que foram propostos. E parece-me a mim também que nós, portugueses, na sua larga maioria, não somos merecedores dessa satisfatória concretização pois nem sabemos conscientemente as pessoas que o deviam fazer.