Faz frio.
O inverno impõe-me um anoitecer precoce, o escuro encobre-me os passos. Enquanto caminho pelo ar gélido, entretenho-me a assistir às pequenas nuvens de de bafo que me fogem da boca. Tão cómicas estas pequenas e etéreas nuvens. Que existencia parca de tempo, tão.. imediata. Se tivessem vida, deviam vive-la ao máximo, tudo de uma vez, com todos os excessos e decadências tipicas da pressa de se ser e viver, conhecer e ter. Imagino o meu nariz vermelho, cor-de sangue, aquele vermelho tipico dos velhos campónios tão bebados quanto humanamente possivel, vermelho de frio. Está tanto frio. fecho melhor o sobretudo e aperto o cachecol preto, a condizer com o resto do traje. Rigor. Sobretudo preto, calça de ganga escuro, cinto de cabedal, camisa branca e malha preta, encobrido pelo blazer preto e o meu sobretudo. Enquanto caminho encanto-me com coisas simples, aquelas que não têm importancia nem significado, que não interessam a ninguém nem têm sequer valor. Olho os prédios, os passeios, as pessoas, o mundo. Delicio-me com a sua decandência, a sua idade, o seu aparente abandono, vivido por centenas de pessoas, subsistido pela necessidade. Olho para o ar, na estrada. Imagino, entre a via vazia, pequenos pirilampos. Amarelos, com efeito de blur e glow a volta, bonitos, de uma surreal beleza mesmo. Dançam consuante a música, aumentam e diminuem consuante os baixos e bateria, vivem pela percursão. Cada vez mais, o ar cheio de pirilampos, um voo sincronizado e coreografado no imediatismo do instinto. Lindo; os reflexos, a cor, a luminosidade, a cada vez maior população de pequenos dançarinos que se criam e desvanecem no ar. Caio no real, o vazio, o mesmo de sempre, caminho. Entre o som da música o barulho dos sapatos. Nunca gostei destes sapatos. Atacadores fininhos, que quase não me deixam fazer o nó, aquela pele envernizada que nunca se compreende se é verdadeira ou falsa, as solas de couro que escorregam apesar das interminaveis horas a pisar gravilha e areia para os marcar e dar aderencia. Semáforos. Penso. Ridiculo. Verde, segue a marcha forçada contra-vontade, puxada por um cavalo preto imaginario chamado responsabilidade, obrigado a prosseguir pelo que tem de ser feito. Chego. espero.
muito tempo.
Oxalá esperasse para sempre. Não quero isto. É um desejo macabro, Querer para lá do nosso quase limite de auto-controlo ver e estar com alguém, para ao mesmo tempo desejar que esse momento nunca mais chegasse. Dói-me isto. Enfim chega, alegre mas calma, contida como sempre. Esforço um sorriso amarelo. Emociono-me: fecho os olhos. Um Beijo sofrido entre uma lágrima. A pistola. O fim
O inverno impõe-me um anoitecer precoce, o escuro encobre-me os passos. Enquanto caminho pelo ar gélido, entretenho-me a assistir às pequenas nuvens de de bafo que me fogem da boca. Tão cómicas estas pequenas e etéreas nuvens. Que existencia parca de tempo, tão.. imediata. Se tivessem vida, deviam vive-la ao máximo, tudo de uma vez, com todos os excessos e decadências tipicas da pressa de se ser e viver, conhecer e ter. Imagino o meu nariz vermelho, cor-de sangue, aquele vermelho tipico dos velhos campónios tão bebados quanto humanamente possivel, vermelho de frio. Está tanto frio. fecho melhor o sobretudo e aperto o cachecol preto, a condizer com o resto do traje. Rigor. Sobretudo preto, calça de ganga escuro, cinto de cabedal, camisa branca e malha preta, encobrido pelo blazer preto e o meu sobretudo. Enquanto caminho encanto-me com coisas simples, aquelas que não têm importancia nem significado, que não interessam a ninguém nem têm sequer valor. Olho os prédios, os passeios, as pessoas, o mundo. Delicio-me com a sua decandência, a sua idade, o seu aparente abandono, vivido por centenas de pessoas, subsistido pela necessidade. Olho para o ar, na estrada. Imagino, entre a via vazia, pequenos pirilampos. Amarelos, com efeito de blur e glow a volta, bonitos, de uma surreal beleza mesmo. Dançam consuante a música, aumentam e diminuem consuante os baixos e bateria, vivem pela percursão. Cada vez mais, o ar cheio de pirilampos, um voo sincronizado e coreografado no imediatismo do instinto. Lindo; os reflexos, a cor, a luminosidade, a cada vez maior população de pequenos dançarinos que se criam e desvanecem no ar. Caio no real, o vazio, o mesmo de sempre, caminho. Entre o som da música o barulho dos sapatos. Nunca gostei destes sapatos. Atacadores fininhos, que quase não me deixam fazer o nó, aquela pele envernizada que nunca se compreende se é verdadeira ou falsa, as solas de couro que escorregam apesar das interminaveis horas a pisar gravilha e areia para os marcar e dar aderencia. Semáforos. Penso. Ridiculo. Verde, segue a marcha forçada contra-vontade, puxada por um cavalo preto imaginario chamado responsabilidade, obrigado a prosseguir pelo que tem de ser feito. Chego. espero.
muito tempo.
Oxalá esperasse para sempre. Não quero isto. É um desejo macabro, Querer para lá do nosso quase limite de auto-controlo ver e estar com alguém, para ao mesmo tempo desejar que esse momento nunca mais chegasse. Dói-me isto. Enfim chega, alegre mas calma, contida como sempre. Esforço um sorriso amarelo. Emociono-me: fecho os olhos. Um Beijo sofrido entre uma lágrima. A pistola. O fim