Vivemos em tempo de crise, tão disinto e igual a todos os outros que a humanidade já passou e sobreviveu. As perspectivas de melhorar, tal como o futuro sombrio tantas vezes antes, são infelizmente diminutas. Preve-se um incrivel decréscimo das condições de vida, da capacidade financeira dos cidadãos do mundo, fome, seca, crises de combustiveis, ar poluido, exposição exagerada a raios solares e radiação, um ou outro chernobyl pelo caminho, devastação ambiental e consequente aquecimento global com as suas imparáveis cheias e vagas de calor. Uma desgraça portanto. As pessoas vão, assim, progressivamente, cada vez viver pior. E cada vez terão menos economias para se sustentar. Isto da perspectiva da minha classe profissional é, tristemente, interessante. Pelo menos do modo que eu vejo: Fará sentido continuar a construir como se sempre construiu? Sobreviver evitando fazer aquilo que devia ser constante na personagem social e educativa que é o arquitecto, que é pensar, repensar e solucionar o mundo? Será sequer moralmente aceitável que um Arquitecto continue a vender projectos da casinha com telha (atenção, que nada tenho contra a telha, tenho sim contra a atitude geral de quem recorre a um desenho gasto e ineficiente ao qual a telha etá naturalmente associado!) já mais e mais que desenhado, mudando apenas a sua implantação no terreno e sem ter qualquer preocupação demais? Pode-se sequer considerar licito vender um control+copy?! Não me parece que ao Homem de consciência isso seja sequer uma opção válida, apenas o seria em caso de declarada necessidade imposta por terceiros (o arquitecto é, afinal de contas, apenas humano: também necessita da actividade chamada alimentação).
Cabe-nos a nós, creio, projectar o futuro. Prever as necessidades de quem vai ter de sobreviver num ambiente hostil como o será certamente o mundo que está para chegar. Não me parece assim muito inteligente continuar a fazer apenas 4 paredes para que os seus habitantes enchem com trabalha e mobilia que nem condiz com a habitação nem dialoga com a restante pilha de fuel para fogueira a que chamam mobilia.
A solução passa creio eu pela educação das pessoas e exigencia que temos uns dos outros. Mas isto é algo tão imediato como a chegada dos cavaleiros do apocalipse, a sua concretização revela-se de uma infeliz utopia. Assim, a solução tem de passar por outro lado. Para que as pessoas não estoirem fortunas com mobilia que no fim lhes vai criar um ambiente desiquilibrado em casa, embebe-se a casa com a mobilia. Quem compra a casa, compra ja a mobilia. Mas não mobilia num sentido geral. Não mobilia que se vai a uma loja e empilha-se contra uma parede. a parede está lá e pode e deve ser tão importante para a casa cm o é a mobilia. A parede é afnal de ocntas, aquilo que o arquitecto projecta, ela sim define o espaço habitado, não o bocado de madeira onde depois se empilha livros e revistas cor-de-rosa. O arquitecto tem o dever de procurar novos modos de viver quando a actualidade assim o exige, como creio ser o caso dos dias de hoje, tal como Fourier teorizou e Godin (felizmente) conseguiu concretizar, e cuja influencia dura até hoje, hoje temos o dever de também reinventar isto como eles mesmo fizeram. A casa hoje não é mais o que era, não mais "vivemos" em casa. Comemos, dormimos, fazemos sexo, volta e meia lemos/vemos tv, uma pequena festa intima, pouco mais. Não se passa um dia em casa. A casa é hoje, mais que outra coisa, um quarto de hotel onde se pode cozinhar. As exigencias da vida profissional e social, da falta de conhecimentos e impraticabilidade de muito tempo a cozinhar devido a falta de tempo, do stress constante e da vida em movimento que cada vez mais vai ser o dia-a-dia do cidadão comum assim a transformaram. Não faz por isso sentido, creio eu, que não se olhe para a casa de um modo racional: um espaço onde se dorme e faz sexo, procede á higiene e, ás vezes, se cozinha. Necessária é também os espaços de arrumação, pois a sociedade consumista, apesar de cd vez menor devido à fragilidade financeira, vai subsistir. A casa é, portanto, pouco mais que isso: uma area social a partir da qual as dependencias do ser humano são atingiveis com a rápida proximidade de um toque numa parede, nela está tudo integrado. Á primeira vista a ideia de criar habitações sem espaço para moveis pode parecer um pouco.. exagerada. Idiota até. Talvez. Mas não o será também gastar fortunas nessa mesma mobilia para depois criar um conjunto que não satisfaz? ou se o fizer, gastar ainda assim fortunas? quando o capital necessita ser investido em prioridades maiores? ou não será pura e simplesmente esta necessidade de encher com moveis algo criado pela industria para que possa sobreviver? será realmente uma necessidade humana atafulhar tudo com coisas tão pessoais como o são peças de design fabricadas aos milhares de milhões?
A solução, parece-me de momento, passa por essa visão integrada das necessidades humanas num (ns) espaços que sejam, de facto, arquitectura, pois esta serve as pessoas e não o arquitecto.