Thursday, November 18, 2010

"RAAAAAAAAAAAAAGEEE ...oh wait, my daddy's on the phone"

Era um salvador
Usava cabelo rapado, lavado, sempre impecavelmente apresentável no seu visual anárquico-rebelde, figura de respeito na sociedade escondida que criara.
Defendia com orgulho a sua pátria, e ostentava com gosto a ofensa de racista de que o acusavam. Defendia os seus direitos e o de seus compatriotas, roubados agora e desejados desde sempre por aquela corja imigrante que seca o tesouro nacional que o seu povo arrecadara ao longo dos séculos.
Defendia-a contra todos: os imigrantes pobres que viviam todos à conta do Estado e os imigrantes ricos que roubavam os cargos de glória das grandes empresas e auferiam os bons ordenados que pertenciam por direito adquirido à nascença à raça superior a que ele pertencia.

Piores que cães, esses imigrantes

Toda essa gentinha do seu próprio pais que falava que o valor das pessoas consistia na sua competência e capacidade, que defendia que essa praga invasiva era igual a si e aos seus, que éramos todos iguais, que já não existiam "nações", existiam pessoas, Traidores. Arraçados de merda, gente fraca sem recuperação a quem esperava o mesmo destino fatal que os insectos estrangeiros na gloriosa nova nação que o exército da sua nova sociedade criará.

"Serão o espelho de um novo império romano, organizados, fortes, cruéis ao seu inimigo!" dizia ele para si mesmo.
A integração era simples; o coepi (iniciado) tem de acima de tudo demonstrar a sua pureza ideológica, a profundidade da crença na nova sociedade. Para tal, terá de organizar e concretizar o rapto de um aduenam (imigrante), espancá-lo, tratá-lo e após a sua recuperação e criação de laço emocional, erradicá-lo. Se ao fim de dois meses o processo for completado satisfatoriamente e o coepi não for descoberto pelas autoridades opressoras que regem a nossa sagrada Nação, o coepi passa o ritu ignis e é aceite nos braços fraternais deste nosso Salutem Regni como um orgulhoso Miles.
Apesar da inexistência de uma educação académica erudita, e da escassez de livros já assimilados, ele era genial. Sabia-o, era genial. Só um génio poderia ver a podridão do mundo trazida pelos imigrantes, e apenas um génio poderia organizar o seu exército como ele:
Dois Praepositus por ramo, divididos em Exercitus (o grosso do exército, constituida por Miles para combate em larga escala), Sapientia (responsáveis pela propaganda e trabalho de bastidores, constituíam também os serviços secretos através dos Procuratores), Ordo (toda a logistica necessária ao surgimento e manutenção da nova Nação, encarregue aos Plaustro) e Opera Latet (grupos de elite para missões de maior risco e necessidade de imperativo sucesso, constituida por Serpens Militi). Ele próprio era o Praepositus da sua Praesidio Personas Honore, que viveria isolada do resto do mundo para sua proteção e impossibilidade de corrupção.

Era genial, criara a sua sociedade maravilha no isolamento do seu quarto em quatro semanas apenas. Quando se deslocava, eram sempre em escolta, com 3 carros e duas motas, do mesmo modo que vira uma vez a policia fazer, e eles deviam saber o que faziam. Isso dava um ar competente e importante. Era assim que se fazia transportar para o Senatus, onde mensalmente tocavam bandas de superioridade intelectual que exaltavam a ideologia magnifica do seu Populi, onde bebiam cerveja nacional e "confraternizavam" e escutavam os seus Orationes. Num dos seus mais marcantes monólogos, dizia:

"Meus irmãos e irmãs, todos sentimos o aproximar da manhã resplandecente em que o sol dos nossos ideais queimará para o Inferno a praga que pilha a nossa Pátria! Perto está o dealbar da nossa ascenção à salvação do Futuro dos nossos filhos e prole, do nosso lugar na História, da glória divina da nossa superioridade, da nossa independência intelec... um momento, o meu pai está-me a telefonar. Estou sim papá? Sim. Sim. Sim. Ok eu meto o lixo no lixo. Ok eu lavo a loiça. Sim.. sim tá bem eu arrumo o quarto, agora não posso falar.. também gosto muito de ti papá... olha depois mete-me dinheiro na conta ok? adoro-te! ...ual!"


P.S.: se não compreendeu nem a ridícula e triste absurdeza de qualquer pensamento xenófobo e/ou racista, nem a ironia de todo o texto, releia. Caso continue a não compreender, inscreva-se numa escola perto de si para tentar criar na sua pessoa a educação e tolerância que a sua família e meio social não lhe proporcionaram. Caso falhe, lamento a sua infantil estupidez crónica.